Resenha: Resistência {Agnés Humbert}

Autor: Agnés Humbert
Editora: Nova Fronteira
Páginas: 344
Nota Skoob: 5/5

Mistura de diário e memória, Resistência foi publicado pela primeira vez em 1946. 

Após a invasão dos alemães em Paris, Agnès, historiadora da arte, resolve fundar junto com seus colegas do museu o primeiro movimento de resistência na capital francesa. 
Até que os alemães a prenderam e a levaram para um campo de concentração.

Lá os horrores da guerra a atingiram em cheio. Agnès decidiu resistir mais uma vez. E conseguiu. Resistência é o testemunho vivo de uma época e suas questões, o depoimento pessoal de uma mulher forte que sempre soube que estava do lado da vida e da liberdade.


Quando crianças, qualquer problema nosso pode ser resolvido por nossos pais, eles estão lá para nos proteger de machucados, injustiças e infelicidades. Quando crescemos isso não desaparece de todo, mas passamos a contar com mais pessoas e passamos a contar também com o Estado para nos proteger, com a Constituição para garantir nossos direitos.

O que aconteceria então se, em uma 3º Guerra Mundial, nossa cidade fosse tomada?? A quem recorrer?? E se fossemos presos e mandados a campos de trabalhos forçados por comprar um chocolate? Quem nos tiraria de lá?? Quem impediria os cruéis guardas de fazerem o que bem entenderem conosco? Será que aguentaríamos??

Agnés Humbert, francesa que lutou contra o hitlerismo através do jornal Rèsistance, passou por tudo isso e nos conta com riqueza de detalhes os anos passados presa, realizando trabalhos forçados e os horrores que teve de aguentar, junto com um sem número de mulheres de diversas nacionalidades que foram parar lá por protegerem amigos, família, maridos, noivos, namorados, ou simples desconhecidos.

Não vou mentir, ler sobre os horrores que os seres humanos podem fazer uns aos outros só por sadismo e ignorância é desesperador, mas Agnés era dona de um otimismo sem igual e sempre destacava as pequenas vitórias do dia a dia, como por exemplo ficar feliz de estar com 20 mulheres na mesma cela mínima sem banho há semanas, mas pelo menos a latrina ter tampa. 

A cada página eu não via a hora de Agnés declarar que acabou a guerra - e que ela estava bem - por mais que eu ainda estivesse em 1942 e sabia que só acabaria em 1945. Agnés não me deixou chorar muito, seu otimismo e esperança mantém a leitura em um ritmo triste, mas esperançoso também e você fica com vontade de dançar junto com ela quando Hitler vai para o inferno que merece.

Gosto de ler estes tipos de livros porque eles colocam as coisas em perspectiva quando ficamos muto mergulhados em nós mesmos e nos nossos problemas. Me fazem lembrar que estamos aqui hoje, com tanta liberdade de ser quem somos, falar o que queremos, nos manifestar quando as coisas não estão do nosso agrado porque pessoas como Agnes largaram mão de seu bem estar, liberdade, dignidade e de suas vidas para nos garantir um mundo melhor, um mundo onde não vamos ser presos e torturados por ser de esquerda, direita, negros, brancos, amarelos, loiros, ruivos, hetero, homossexuais. cristãos, umbandistas, espiritas ou judeus.

Estamos bem longe da perfeição, claro, não sou ingênua, mas como quem já me lê há algum tempo sabe, eu tenho esperança e ela existe graças à Agnés e tantos outros que sofreram e morreram para me garanti-la. Livro super recomendado!

[Obrigada, Pri, amiga querida, pelo presente maravilhoso!! Eu demoro, mas leio! hehehe]

Trechos Favoritos

“Silenciosa força interior, isso é o que têm as mulheres. Uma força discreta que, sem alarde, alimenta seus gestos de coragem e, tantas vezes, permite que conservem a cabeça erguida nas circunstâncias mais duras.”
[Marina Colasanti – pág. IX]

“Quer dizer, então, que não temos mais o direito de ler em nossa própria casa, o que bem quisermos, não temos mais o direito de falar?”
[pág. 19]

“A palavra de ordem para todas as prisioneiras é: negar, negar, negar.”
[pág. 68]

“Penso em todos os momentos felizes da minha vida. Os outros precisam ser esquecidos, sobretudo aqui. É preciso esquecê-las sob pena de ganhar rugas. As rugas do rosto são feias, as do coração, mais ainda.”
[pág. 70]

“Não há nada que dominemos de todo, salvo nossos pensamentos.”
[Citação de Descartes - Discurso do Método – pág. 92]
  
“Sempre ouvi dizer que a sede é mais terrível que a fome. É verdade! Mas a guardiã não pensou nas privadas! Ela não sabe que o nojo passa quando a língua incha de sede.”
[Quando a guardiã da prisão deixa as presas 3 dias sem água após as rotinas de 12h de trabalho - pág. 121]

“Matar, matar, matar para viver. É necessário, é inevitável: a barbárie ou a civilização. Mas a civilização precisa se impor com as armas dos bárbaros! Aí está a tragédia!”
[pág. 173]

“Para a maioria dos americanos, a guerra é uma atividade abstrata e teórica. Eles fazem a guerra, e muito bem, tanto que estão prestes a vencê-la, mas não a sofreram na carne.”
[pág. 214]

“Dançamos. Também dancei em 1918, mas em 1918 eu não sabia o quanto iria sofrer e ver sofrer. Agora que sei, danço melhor, rio melhor. Odeio melhor também.”
[pág 226]

“Lutamos e ainda lutaremos, para que um dia não mais aprendamos a fazer guerra!”
[pág. 236]

Comentários

Unknown disse…
Adorei a resenha amiga, muito boa :) Demoro p ter sua coluna! s2

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