Resenha #108: Preciosa | Sapphire
Autora: Sapphire
Editora: Record
Páginas: 192
Tradução: Alves Calado
Skoob: 4/5
*Atenção: este livro, bem como sua resenha, abordam temas que envolvem violência e abuso à crianças.
Violência. Terror. Humilhação. Injustiça. Perseverança. Otimismo. Realidade. Amor. Precious Jones tem 16 anos, mas ainda está no Ensino Fundamental e é semianalfabeta. Aos 12 anos teve uma filha do próprio pai, enquanto a mãe a espancava no chão da cozinha. Agora está grávida do segundo filho e a conselheira da escola a expulsou por causa disso. Ela queria ser branquinha, magrinha, loirinha e do cabelo liso, porque essas coisas não acontecem com essas meninas, na opinião de Precious.
Não sei o que é "realismo", mas sei o que é REALIDADE, e a realidade é uma filha da puta, vou te contar.
[Precious, p. 97]
Mas o que parecia ser um caminho sem volta em direção a um poço ainda mais fundo do que ela já se encontrava, Precious encontra a gentileza e a esperança de um futuro na escola alternativa Cada Um Ensina Um, onde a Professora Blue Rain, bem como suas colegas de classe, lhe proporcionam a chance de recomeçar e se permitir a sonhar com um futuro digno!
Fazia tempo que queria ler Preciosa, mas como sabia mais ou menos o que encontraria, sempre deixava para depois. Até que resolvi encarar o tapa na cara. E que tapa! Abusada tanto pelo pai, como pela mãe, a história de Precious comove, enoja, deprime e me fez questionar desde Deus ("por que o senhor deixa monstros desses sequer existirem?"), passando pelo governo (pena de morte, por favor?), até a nossa existência (será que existimos apenas para fazer mal uns aos outros?). Porque o pior de tudo não é o livro em si, é saber que realmente existem crianças como Precious por todo o mundo, que não conhecem pais amorosos, protetores, não conhecem a infância nem a inocência. Apenas sofrimento, dor, humilhação entre outras coisas que eu, com a sorte gigante que tive neste mundo, não saberia descrever.
Não entendo por que umas pessoas têm boa escola, boa mãe e bom pai e umas não tem.
[Precious, p. 155]
O livro me tocou ainda mais, pois minha amiga Ju trabalha com crianças na mesma situação - e até em piores! - em um dos Centro de Referência Especializado de Assistência Social (CREAS). Mantidos pelos governos estaduais, esses centros oferecem "serviços especializados e continuados a famílias e indivíduos em situação de ameaça ou violação de direitos (violência física, psicológica, sexual, tráfico de pessoas, cumprimento de medidas socioeducativas em meio aberto, etc.)". De vez em quando, a Ju contava o quanto era difícil lidar com os casos que pegava e, ao mesmo tempo,o quanto era maravilhoso quando ela e sua equipe conseguiam transformar o final da triste história dessas crianças em um novo começo!
O que eu quero mesmo é óculos. Pra meus olho não ficar tão cansado de noite quando eu tô lendo. Mas a gente não pode ficar se agarrando tanto nos detalhe quando tá tentando sobreviver.
[Precious, p. 141]
O livro é narrado pela própria Precious, e como no começo ela não sabia escrever direito, vemos uma linguagem bem coloquial, cheia de gírias, abreviações, erros e palavrões. Ele virou filme em 2010, estrelando Gabourey Sidibe e levou dois Oscars por Melhor Atriz Coadjuvante e Melhor Roteiro Adaptado. Ainda não assisti, mas pretendo reunir a coragem para tanto!
Apesar do tema pesado, o livro é rápido de ler e te envolve a torcer por essa personagem para quem tudo deu errado, a achar o seu lugar e recomeçar! Dei nota quatro porque queria saber mais do que acontece com a Precious, o final ficou muito em aberto! =/
O que é uma vida normal? Uma vida que você não tem vergonha da sua mãe. Que seus amigo vão na sua casa depois da escola e assiste TV e faz o dever de casa. Que sua mãe tem a aparência normal e não bate na sua cabeça com a frigideira de ferro. Na minha fantasia eu ia querer uma segunda chance. Porque minha primeira foi embora com mamãe e papai.
[Precious, p. 131]
Comentários
To com saudades!
Bjs